Já não tenho mais imaginação de como educar esta criança! Há meses que tudo o que faz e em tudo o que mexe diz “com licença”. Vai à casa de banho, com licença, pega num copo, com licença, pede licença a um carro para passar por outro nas brincadeiras infindáveis, senta-se, com licença, levanta-se, com licença, passa por mim 400 mil vezes ao dia, com licença, cruza-se com pessoas na rua, com licença, dá um pum, com licença, põe perfume, com licença, abre uma gaveta, com licença, fecha uma porta, com licença. O exagero era tanto que tive que lhe dizer que não se diz com licença. Ponto. Em circunstância alguma! Não será porque não pede permissão para passar ou fechar uma porta que vão achar que é mal educado. Tantas vezes lhe repeti a frase, já em desespero, que o feitiço de virou contra mim, claro! Com esta criança devia prever todos os cenários mas não me lembrei que um dia pudéssemos ir ao oftalmogista e que a coisa pudesse correr mal. Muito mal.
Entrámos na sala semi escura e a médica pede que me sente na cadeira com ele ao colo. Tagarelice pegada dos dois e no gesto mais normal numa consulta daquela especialidade, a médica tira-lhe os óculos. “Com licença.” O miúdo põe a cara mais indignada que possam imaginar, franze o sobrolho, olha para trás para perceber o meu grau de insatisfação perante tal asneira e responde apressado:
– Isso não se diz!
– O que é que não se diz!?
– Com licença!
A médica, coitada, que não fazia mais que o seu trabalho educado, riu-se. Eu verde, cheia de lágrimas nos olhos de tanto riso contido olhava para o ecrã com letras mínimas, que obviamente via em desfoque, na esperança de ela achar que eu não estava ali. A consulta decorre, eu em níveis de calor já normais e a médica resolve pôr-lhe uns óculos xpto para medir qualquer coisa que nunca irei entender. “Com licença.” Suspendi a respiração.
– Já disse que não se diz com licença!
– Ai não?
– Não. Já disse.
– Então porquê?
(suores, suores, suores)
– Porque a minha mãe não deixa!
Entrámos na sala semi escura e a médica pede que me sente na cadeira com ele ao colo. Tagarelice pegada dos dois e no gesto mais normal numa consulta daquela especialidade, a médica tira-lhe os óculos. “Com licença.” O miúdo põe a cara mais indignada que possam imaginar, franze o sobrolho, olha para trás para perceber o meu grau de insatisfação perante tal asneira e responde apressado:
– Isso não se diz!
– O que é que não se diz!?
– Com licença!
A médica, coitada, que não fazia mais que o seu trabalho educado, riu-se. Eu verde, cheia de lágrimas nos olhos de tanto riso contido olhava para o ecrã com letras mínimas, que obviamente via em desfoque, na esperança de ela achar que eu não estava ali. A consulta decorre, eu em níveis de calor já normais e a médica resolve pôr-lhe uns óculos xpto para medir qualquer coisa que nunca irei entender. “Com licença.” Suspendi a respiração.
– Já disse que não se diz com licença!
– Ai não?
– Não. Já disse.
– Então porquê?
(suores, suores, suores)
– Porque a minha mãe não deixa!
Mil desculpas Sra Dra, pela falta de educação do meu filho que, afinal, é culpa minha e muito obrigada por ter disfarçado a maluqueira da nossa família. Mas sempre ouvi dizer que o que as mães dizem é para repetir. Foi simplesmente o que ele fez.
Mea culpa! Com licença.