Out 01

Pequenez

Odeio esta coisa de um dia ter areia nos pés e sal na boca e no outro andar a empurrar carrinhos aos encontrões à procura de lápis xpto, cartolinas com cores que nunca ouvi, materiais que nunca usei em 15 anos de artes e tesouras de bicos redondos, pegas ergonómicas e cores que compensem o trabalho que vão dar. Como se não chegasse ando hà noites à volta de etiquetas e etiquetinhas, canetas de acetato e bordados para não trocarem, na escola, o que tanto trabalho me deu a regatear vários últimos artigos com tantos outros pais que preferiam estar no corredor das bebidas a escolher a cachaça para gozar os últimos dias do mês e a neura de voltar às rotinas. Tudo para não ter uma criança chorosa porque o outro Bartolomeu, da sala do lado e com a mesma cor de bibe, lhe levou as calças ou pior, as canetas xpto que tanto me custaram a encontrar. Em vez do nome próprio que mandei bordar em todo o lado, achando que bastaria, passei uma noite a escrever apelidos porque todos os Bartolomeus com 3 anos têm pais que escolheram a mesma escola, na mesma zona, e vá-se lá perceber: até têm a mesma cor de bibe! Oh sorte! Como se não bastasse o miúdo ter um nome gigante ainda tenho que lhe somar apelidos. Tudo em cada um dos lápis xpto, em cada uma das cartolinas com cores que nunca ouvi, na tesoura de bicos redondos e em toda a roupa que tem no armário. Valha-me alguma coisa ser pequena. Ele próprio! 

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