Tudo o que cai do céu

Acho que também vou juntar um punhado de miúdas curtidas e pedir-lhes que me atirem confetis. Quero continuar de braços abertos a receber tudo o que do céu me cai.

Parede de orgulhos

Tenho, aqui em casa, mesmo à minha frente, uma parede cheia de vocês. Famílias, noivos, crianças, amigas e bebés. Uma espécie de espelho daquilo que sou, que me deixam ser e que quero prolongar para o resto da minha vida. Está a abarrotar de medos, indecisões, inseguranças, defeitos e tudo o que me fez chegar aqui, 2 anos depois. Esta também vai para lá. Para nunca me esquecer que basta um segundo para guardar uma imagem, para sempre, e um prego para segurar tudo o que é bom na minha vida.
Mai 14

Educação apressada

Ando a ensiná-lo a não bater. A ele e a mim, que volta e meia saltam-me os dedos ao rabo numa tentativa de educação apressada em fuga a uma troca de verbos. A não bater, a pedir desculpa, a um obrigado agradecido, a rir de si próprio, a dar, a amar, a trabalhar e tudo o que os dias me vão pedindo em testemunho na certeza de que, também eu, os tive em sorte. E ando a pedir, muito, que nunca seja um daqueles pais. Mais do que a atitude condenável era a certeza de toda uma educação falhada, um prenúncio de resto de vida atribulado. Se algum dia tal acontecer, que não me falhe a memória dos princípios básicos de vida numa sociedade civilizada que a mão, essa extensão de mim que afaga mas também educa, essa tenho a certeza de que não falhará para voltar a educar. E se for essa a sina que lhe corre nas veias a ferver que me perdoe mas não estou a fazer mais que amá-lo.

Photo of the Day

Passo os dias a pedir-me calma, que Roma e Pavia não se fizeram num dia e tudo tem timmings na vida. Mas não consigo. Não consigoooooooooo.

Sina

Fui perseguida por uma cigana que pedia, insistentemente, para me ler a sina. “É só um eró! É só um eró!”, dizia em passo curto e acelerado atrás de mim. Uns vinte metros que me pareceram um Lisboa-Porto e cansada da pedinchice parei de rompante, virei-me para trás rezando para que não nos beijássemos, olhei-a nos olhos e num “Diga!” calei-a. Baixou o tom e encolhendo-se, diz-me:– Só lhe quero ler a sina, menina.– Mas eu não quero, obrigada!– Então levante só a mão que eu não cobro nada.Anui.– Não é essa, é a direita.Revirei-lhe os olhos e continuou:– Sabe que é muito invejada?– Sei.– Sabe?– Hum-hum. Não, não sei nada, só quero que se despache.– E sabe que é muito feliz?– Sei.– Então agora para lhe dizer o resto é um eró!Dei uma gargalhada e segui caminho. Até nem acho caro pagar um eró para nos lembrarem o que tão bem sabemos. Talvez volte à mesma esquina desafogada e procure a mesma cigana que na sua vaga imaginação há-de me lembrar de um ou dois pontos. Nunca é demais o conforto das certezas. Mesmo que inventadas. 🙂
Mai 11

Dia do Trabalhador

Não sei o que vai ser. Nem sequer se vai ter um emprego ou um trabalho. Se olhar para os pais verá duas caras felizes, com trabalhos que os realizam, sem horários, muito empenho e responsabilidade pelo gozo que dá jurar eternidade ao que gostamos. Não sei mesmo o que vai ser. É um dos itens da lista de incógnitas da vida que adorava advinhar. Não percebo de búzios e ainda não sei ler bolas de cristal mas posso tentar a sina no que vejo daqueles olhos brilhantes, que nas mãos já lhe li, há tempos, sorte.Pode ser Astronauta, de tanto que anda na lua; talvez Veterinário pelo cuidado com os animais; pode ser Médico pela licenciatura em medicina e especialização em cardiologia; pode ser Polícia Sinaleiro, com os engarrafamentos de todo o tipo de veículos que povoam esta casa; pode ser Pugilista, pelos antecedentes criminais; pode ser Político pelo discurso vago, acelerado e certeiro; pode ser Artista de Circo pela capacidade de entreter todo o tipo de público por tempo indeterminado; pode ser Viajante se das histórias que hoje fantasia fizer vida; um dia Bailarino pela dificuldade de manter aqueles dois pés pequenos e gordos em uníssono com a gravidade; […]