Set 16

Foi hoje

Foi hoje. O dia que há tanto tempo esperávamos. Primeiro ansiávamos que o dia chegasse, sinal de que já tudo estava bem depois tremíamos só de pensar na possibilidade de lá chegar.

Nasceu em Janeiro de 2011. Um mês antes descobriram que o coração tinha algumas malformações. De início era um problema perfeitamente resolvivel, nasceria e viria para casa com ele até ser altura de o corrigir. Nada disso. A cada ecografia, exame e teste o problema ia aumentando de tamanho. Só podíamos esperar. Faltava um mês para o conhecermos e não havia nada que pudéssemos fazer até lá. Não googlámos. Esperámos com a certeza de que tudo o que viesse viria bem, porque era nosso filho.
Tivemos tanto medo. O problema diagnosticado vem, maioritariamente, associado a Trissomia 21. Por isso tudo o que sabíamos era que tinha uma aurícula, em vez de duas, havia comunicação entre os ventrículos, só tinha uma válvula (que fazia as vezes da mitral e da tricúspide), que a aorta era muito estreita e que possivelmente tinha T21.
Nasceu a 24 de Janeiro rodeado de médicos de capa, sem T21. Fomos presenteados com os melhores do país, para nós os melhores do mundo.
Só o vi com 12 horas e só lhe peguei com uma semana.
Assisti a enfermeiras dizerem-me que se alguma coisa acontecesse com o B no hospital que não queriam que fosse no turno delas. Lembro-me de pensar que o meu turno era eterno e que o resolveria na maior.
Foi transferido para o melhor hospital do mundo. Fica em Carnaxide e, não deve ser por acaso, que se chama Santa Cruz. Entrou na UCI e foi operado com 3 semanas para “remediar” o problema.
Veio para casa com um mês e meio à espera de ser altura de corrigir definitivamente, o que aconteceu em Fevereiro deste ano. 7 horas de cirurgia, 5 das quais com o coração fora do corpo.

Até agora foi completamente proibido de ir à escola. Não podia estar com outros miúdos.
Hoje foi o dia.
Acredito que todos os Pais sintam o mesmo que nós, hoje. Mas estou tão apertada.
Conheço-o melhor que eu própria. Percebo tudo o que diz, sem falar, percebo quando está triste sem chorar. Sei-lhe os tipos de choro, as manhas e os risos. É o miúdo mais feliz do mundo mas o mundo dele era em casa. O meu mundo era ele.

Hoje foi para a escola. Estou p’raqui às voltas. Não há fraldas para mudar, não oiço as gargalhadas quando lê livros, não há almoços para fazer nem sestas para adormecer.

Sempre que não estive com ele em casa, por opção, era porque estava no hospital. Há-de passar.

Deu um beijinho à educadora, caiu-lhe no colo com um sorriso e deixei-o com um nó na garganta.

Hoje sou eu que tenho o coração fora do corpo. Para sempre.

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