8.30 da manhã. O caos instalado em casa. O Lourenço em retoques, a miúda morta de fome, eu com uma perna dentro das calças e a outra aos pulinhos, de cabelo a pingar. Vou ao corredor ver do loiro e vejo-o a passear, calmamente, corredor acima, corredor a baixo de nariz empinado e mãos atrás das costas. Para a frente e para trás enquanto snifava ar. Argh, os nervos que me deu. O caos continuava instalado e o miúdo, o mais lento dos miúdos, em passeatas matinais, que paciência!
– O que foi, querido!?
Snifava, snifava.
– Bartolomeu, o que foi?
– Hummm. Cheira-me a gravata.
(Ai, a sério! É tão cedo que nem percebo o que ele diz!)
– Cheira a quê!?
– A gravata, mãe.
(P’lo amor de Deus, são 8.30h da manhã, só me cheira a cerelac.)
– O que é isso, cheirar a gravata?
Mantinha o nariz no ar e as mãos atrás das costas. E snifava. Nisto o Lourenço aparece, o miúdo dá a derradeira inalação ao ar perfumado e grita um “Ahhhh! Já percebi porque me cheira a gravata!”
Só espero que nunca lhe cheire a máquina fotográfica. Volta e meia posso enganar-lhe a saudade dizendo que vou comprar um perfume. Ou outra gravata qualquer.