Pensei, pensei e repensei se devia fazer este post. Ser fotógrafo não é só mostrar um mundo cheio de famílias felizes e miúdos loiros de olhos azuis. Ser fotógrafo tem uma carga e uma responsabilidade de que muitos não se apercebem. É retratar o mundo (de alguém). E por mais que esse mundo seja pesado só temos de o suavizar. Conheci a Ana ainda grávida. Encontrou-me porque partilhávamos a mesma história. As duas tínhamos filhos cardíacos. É muito raro acontecer mas o problema era exactamente o mesmo. Encontrou-me pelo blog que, na altura, escrevia. Eu tinha prometido a toda a família que daria notícias diárias do estado de saúde do B quando fosse operado. Coisas da internet e o miúdo ficou mais conhecido que o Tony Carreira. Quando voltámos para casa recebi um mail da Ana. Chorei tanto. Tinha acabado de resolver os piores 2 anos da minha vida e Deus punha-me o M no caminho. Contou-me a história da sua vida e só tinha duas hipóteses: ou lhe mandava na resposta uma lista de médicos e clínicas onde ir ou pedia-lhe que viesse a minha casa conhecer o B. Chegou-me uma miúda de sorriso fácil e conversa leve. Cheguei […]
Foi hoje. O dia que há tanto tempo esperávamos. Primeiro ansiávamos que o dia chegasse, sinal de que já tudo estava bem depois tremíamos só de pensar na possibilidade de lá chegar. Nasceu em Janeiro de 2011. Um mês antes descobriram que o coração tinha algumas malformações. De início era um problema perfeitamente resolvivel, nasceria e viria para casa com ele até ser altura de o corrigir. Nada disso. A cada ecografia, exame e teste o problema ia aumentando de tamanho. Só podíamos esperar. Faltava um mês para o conhecermos e não havia nada que pudéssemos fazer até lá. Não googlámos. Esperámos com a certeza de que tudo o que viesse viria bem, porque era nosso filho. Tivemos tanto medo. O problema diagnosticado vem, maioritariamente, associado a Trissomia 21. Por isso tudo o que sabíamos era que tinha uma aurícula, em vez de duas, havia comunicação entre os ventrículos, só tinha uma válvula (que fazia as vezes da mitral e da tricúspide), que a aorta era muito estreita e que possivelmente tinha T21. Nasceu a 24 de Janeiro rodeado de médicos de capa, sem T21. Fomos presenteados com os melhores do país, para nós os melhores do mundo. Só o […]
Voltámos do 2nd round de férias. O B andou radiante, felicíssimo da vida. Achei que numa casa com tanta gente ia soltar a língua mas ainda nada. É o maior palhaço e adora fazer de macaquinho amestrado quando lhe pedem as graças todas seguidas. Fomos o toldo mais visitado da praia. Não gosto de me gabar disso porque as razões não foram as melhores mas gosto de me lembrar da reacção de todas aquelas pessoas que o viram pela primeira vez depois de ter sido operado, em Fevereiro. Era um misto entre “não é possível” e “extraordinário”. E isso deixa-me tão contente! Foi tempo de parar e fazer balanços. Do que passou e do que vem. Do que correu bem e do que se pode fazer melhor. Por mais que tentasse largar o vício acho que trabalhei todos os dias. E-mails, sessões, edições e surpresas. Setembro chegou cheio de trabalho, muitas sessões, casamentos, parcerias e coisas tão boas a acontecer. Mal possa conto tudo. Daqui a 15 dias talvez volte a ser um dos dias mais difíceis da minha vida. Depois de mais de dois anos e meio o B pode, finalmente, ir para o colégio. Foram dois anos intensos, complicados, […]