Eram 9 da manhã. No meio de todo o – normal – caos matinal instalado, cada um com a sua tarefa, há sempre uma alminha que vive alheia à escassez de tempo para tanta lista de obrigações, aos dramas das não conjugações de cor do modelito do dia, dos berros da irmã que suplica por brincadeira ou por um nó de gravata tão apertado quanto a falta de tempo. Vejo-o no ritmo, habitual, mas nem por isso não enervante, a vir na minha direcção, tal e qual o imagino a passear num jardim daqui a 70 anos. Passo a passo lá vem ele, já de bibe vestido – para ir encurtando afazeres – e quando me chega aos joelhos diz, enquanto tenta abrir o bolso com aqueles dedos pequenos:
– Mãe, – ai não consigo abrir – tenho aqui uma coisa – ah, já está – que ontem me esqueci de mostrar.
Brilham-lhe os olhos. E os dentes.
– E o que é?
(Despacha-te miúdo, ainda não me penteei!)
– Um desenho da Kika.
Desdobra-o ao mesmo ritmo dos passos que o levaram até mim – que nervos!
– Posso ver?
– Sim!
– O que é?
– Eu e ela. – Diz displicente.
Dá meia volta e acho por bem olhar de soslaio não fosse o miúdo perceber que os meus 10 minutos a mais de cama levaram a melhor. Tive uma paragem cardíaca.
– O qué é isto em cima de vocês?
Levanto eu a voz numa tentativa de emudecer a resposta que já estava a 3 lentos metros de mim.
– Ah! Isso é ela que está apaixonada por mim!
Olha para trás, ainda em movimento, dá aquele sorrisinho justificativo da obra de arte e continua caminho.Já eu, estou p’ra aqui meia parada. Não consigo perceber como é que, com tanta inércia nos atacadores, lhe dão as miúdas tanta corda.
– Mãe, – ai não consigo abrir – tenho aqui uma coisa – ah, já está – que ontem me esqueci de mostrar.
Brilham-lhe os olhos. E os dentes.
– E o que é?
(Despacha-te miúdo, ainda não me penteei!)
– Um desenho da Kika.
Desdobra-o ao mesmo ritmo dos passos que o levaram até mim – que nervos!
– Posso ver?
– Sim!
– O que é?
– Eu e ela. – Diz displicente.
Dá meia volta e acho por bem olhar de soslaio não fosse o miúdo perceber que os meus 10 minutos a mais de cama levaram a melhor. Tive uma paragem cardíaca.
– O qué é isto em cima de vocês?
Levanto eu a voz numa tentativa de emudecer a resposta que já estava a 3 lentos metros de mim.
– Ah! Isso é ela que está apaixonada por mim!
Olha para trás, ainda em movimento, dá aquele sorrisinho justificativo da obra de arte e continua caminho.Já eu, estou p’ra aqui meia parada. Não consigo perceber como é que, com tanta inércia nos atacadores, lhe dão as miúdas tanta corda.
