Mar 31

Love you

Ontem perguntou-me, pela primeira vez, o que era o risco que tinha no peito e os três buraquinhos que o terminam com um “qué ito, Mãe?”. Gelei.

Já me tinham perguntado se ele sabia, se se lembrava ou se fazia perguntas. “Não. Só tem 3 anos, ainda”. O desprendimento que pus na coisa fez-me avançar o problema uns tempos. Sempre achei que as crianças perguntavam por comparação e que as dúvidas viessem, talvez, no verão, quando visse que todos os outros meninos não eram (bem) desenhados como ele. Afinal, e sem aviso prévio, chegou mais cedo.

Enquanto pensava, nas fracções de segundos que as crianças nos deixam, o que responder, ele desenhava o risco infinitas vezes. Para cima e para baixo. Tentei pôr as ideias em ordem, revertê-las para um discurso mais acessível e só disse: “o coração tinha um dói-dói e teve que ir ao médico para ser arranjado”. Engoli em seco prevendo o rol de perguntas seguidas que habitualmente saiem daquela cabeça. 3 segundos de silêncio e os mesmos gestos repetidos. Depois pára, olha para mim, põe o maior sorriso que lhe conheço e responde-me: “não fá mal, Mãe, já não dói”. E dá uma gargalhada.

Fiquei imóvel, a olhar e à espera de mais. Nada. Só isto.

Se há sítio onde o meu miúdo merece estar com todo o mérito, é neste mundo. A gozá-lo e simplificá-lo como só ele sabe. Só eu não sei o que fiz para o merecer na minha vida, mas o que quer que tenha sido, agradeço-o todos os dias.

5 minutos depois calçou-se sozinho, pela primeira vez. Está pronto para o mundo, definitivamente.

Love you.

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