Há uns tempos precisou de ir fazer análises e um rx. Preparei a coisa como se fosse um programão, antecipando as 3 horas habituais de picadelas para o (in)sucesso da coisa. Disse-lhe que íamos de metro, que era espectacular, que ia passear comigo e no fim ainda comia um bolo. Não, não o enganei. Acabei a descrição com um “depois vamos ao médico”. Soltou um “Boa!”. Chegámos á clinica e estava eufórico, a primeira viagem de metro tinha sido memorável! Chamaram-nos para o Rx. Faz todo o corredor a dançar, entra na sala semi escura, só com uma luz, em lusco-fusco, acessa em cima de uma mesa e achando que estava a entrar num palco, abre os braços e diz: “Oláaaaa! O Babá chegouuuuu!” Desilusão total. A sala estava completamente vazia. Valeu-lhe uma sala de espera cheia, atrás dele, às gargalhadas. Voltámos para a plateia que só faltou pedir autógrafos. Ele, com uma mão no peito, outra atrás das costas, os olhos fechados e o corpo semi dobrado agradecia como se tivesse no circo. Esperámos 10 minutos e chamaram-nos para a sala das análises. Se ele, coitado, não sabia ao que ia, já eu tremia por ele. Entrámos e pediram-me para o sentar ao meu colo e prender-lhe o braço. Ouço a porta fechar e vejo 3 enfermeiros a olhar para nós. Bonito. 1ª tentativa, nada. 2ª, igual. Eu suava em bica e despia-me a cada 5 minutos. Ele chorava, berrava, tremia. 3ª tentativa e 40 minutos depois vejo qualquer coisa. Os 3 enfermeiros já verdes de aflição deitam foguetes para logo se dediludirem. 4ª tentativa, 1 hora depois. Ufa, finalmente! O mínimo dos mínimos, mas serve.
Já sem saber se o que sinto de molhado é das lágrimas dele ou do meu suor, fixa os olhos nos 4 pensos espalhados pelo corpo, levanta a cabeça em direcção às 3 criaturas maléficas, começa a limpar as lágrimas com muita força alternando entre a palma e as costas da mão, recompõe-se, inspira todo o ar que consegue e larga um “Ôbigada!”
Tive a certeza que os pingos que tinha na camisa eram meus.
(Estás proibido de um dia me deixares. Completamente proibido. E o que uma Mãe diz é para cumprir. Sempre. ♥)