Eram 9 da manhã. No meio de todo o – normal – caos matinal instalado, cada um com a sua tarefa, há sempre uma alminha que vive alheia à escassez de tempo para tanta lista de obrigações, aos dramas das não conjugações de cor do modelito do dia, dos berros da irmã que suplica por brincadeira ou por um nó de gravata tão apertado quanto a falta de tempo. Vejo-o no ritmo, habitual, mas nem por isso não enervante, a vir na minha direcção, tal e qual o imagino a passear num jardim daqui a 70 anos. Passo a passo lá vem ele, já de bibe vestido – para ir encurtando afazeres – e quando me chega aos joelhos diz, enquanto tenta abrir o bolso com aqueles dedos pequenos: – Mãe, – ai não consigo abrir – tenho aqui uma coisa – ah, já está – que ontem me esqueci de mostrar. Brilham-lhe os olhos. E os dentes. – E o que é? (Despacha-te miúdo, ainda não me penteei!) – Um desenho da Kika. Desdobra-o ao mesmo ritmo dos passos que o levaram até mim – que nervos! – Posso ver? – Sim! – O que é? – Eu e ela. […]