Sina

Fui perseguida por uma cigana que pedia, insistentemente, para me ler a sina. “É só um eró! É só um eró!”, dizia em passo curto e acelerado atrás de mim. Uns vinte metros que me pareceram um Lisboa-Porto e cansada da pedinchice parei de rompante, virei-me para trás rezando para que não nos beijássemos, olhei-a nos olhos e num “Diga!” calei-a. Baixou o tom e encolhendo-se, diz-me:
– Só lhe quero ler a sina, menina.
– Mas eu não quero, obrigada!
– Então levante só a mão que eu não cobro nada.
Anui.
– Não é essa, é a direita.
Revirei-lhe os olhos e continuou:
– Sabe que é muito invejada?
– Sei.
– Sabe?
– Hum-hum. Não, não sei nada, só quero que se despache.
– E sabe que é muito feliz?
– Sei.
– Então agora para lhe dizer o resto é um eró!
Dei uma gargalhada e segui caminho.
Até nem acho caro pagar um eró para nos lembrarem o que tão bem sabemos. Talvez volte à mesma esquina desafogada e procure a mesma cigana que na sua vaga imaginação há-de me lembrar de um ou dois pontos. Nunca é demais o conforto das certezas. Mesmo que inventadas. 🙂
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