Jan 24

Nós

Sentei-me, amorosa, ao computador com o disco das nossas fotografias ligado e abri a pasta de 2011. Queria publicar uma fotografia dele recém nascido, querido, de cueiro, ao meu colo, coradinho e inchado ainda no hospital. Caiu-me a ficha e arrependi-me da estupidez de querer ir desencantar uma coisa que eu já sabia que não existia. Fechei tudo e fui-me embora. Voltei 10 minutos depois e ri-me. Da estupidez dupla e de o ver assim. Não, não de o ver assim, com fios ligados à vida e um vidro desligado do resto, de o ver assim, agora, todos os dias. Tão querido, tão bom, tão feliz. Editei-a – o melhor que uma fotografia de telemóvel com 6 anos deixa -, exportei-a para aqui, voltei a tirar o sorriso e pousei o telemovel. Fixei o infinito durante um minuto. “Que se lixe!”, pensei, “Publico na mesma!”. Da mesma maneira que me ri com a comparação, incomparável, do antes e do depois, gostava muito que se lembrassem que, além do finito a que cada um chegará, não há nó que a vida faça que não seja impossível de desfazer. Mesmo. ♥

Parabéns!

Parabéns miúda! 🎉 Talvez esta não seja a melhor foto que tenho tua. Tenho a certeza, até. Vi-te avançar no pontão, sozinha, de balões a voar e não resisti ao cenário. Talvez tudo te pareça meio nublado, sem visão para a outra margem mas nem tudo são diagonais:) Sei que vamos repetir o quadro, um dia, a cores, com balões, confetis e com ponto de fuga para onde quiseres. Vou estar cá para ajudar nos alinhamentos que as linhas que hoje se escrevem são meias tortas:) Love You my Popcorn 🎉💪🏻✨
Dez 23

Que aflição!

Se há coisa de que o miúdo gosta é de mimo. A concorrência é de peso por isso sempre que posso concedo-lhe uns afaganços mais demorados. Como ontem, que fiquei com ele todo o dia com a desculpa de que tinha oftalmologista ao fim da tarde. Fizemos legos, vimos televisão agarradinhos e fomos almoçar fora a ver o rio. Estiquei-me na sangria e na preguiça de ir à casa de banho e só a meio da viagem até ao hospital me deu uma súbita vontade de ir à casa de banho. Daquelas incontrolaveis. Já me doía a barriga, não tinha posição, refilava com o trânsito caótico e ameaçava parar o carro ali mesmo. Tive tempo para o preparar para a saída do carro: “Tem que ser a correr até lá que a mãe já não aguenta mais!” Ele anuía de olhos muito arregalados e agora, pensando bem, sou capaz de ter dito aquilo com algum ar de louca. Chegamos e ele cumpre tudo à risca. Salta do carro e corre o mais que aquelas pernas curtas deixam. Eu já não sabia se me ria da estupidez se chorava de dor. Quando pomos um pé dentro do hospital, a sala cheia, […]
Nov 29

Comprimidos para a memória

Cheguei ao limite. Num dia da semana passada saiu sem óculos para a escola, noutro só tomou o pequeno almoço mesmo no limite da pontualidade, o costume é deixar passar as respostas às festas que tanto quer ir, ontem foi com dois pares de cuecas mas deixou lá o casaco da rua. Sei que a minha vida se equilibra todos os dias. Nuns dá a mais noutros tira demais:) Amanhã faço anos e já pedi um carregamento de comprimidos para a memória. A viagem para uma ilha paradisíaca foi pedida ao Pai Natal:) Ainda assim tive que pôr os pedidos em papel não fosse esquecer-me também do que preciso:)
Nov 09

Jebras

Conversas matinais: – Mãe, já aprendi o jê. – Quer giro! Podemos fazer aquele jogo? – Boa, mãe! – Começo eu. Janela. – Que rápida, mãe! Japão. – Jantar. Espero. – Então, querido? – Jebra! Já que o mundo é uma selva mesmo, entramos no espírito. A todo o custo:)

Que loucura!

Esta miúda está a deixar-me louca. Eu sei que pedi uma gorducha arrebitada só para contrastar com o miúdo atinadinho que nos afagava as mãos e a alma:) mas o pedido foi, literalmente, melhor que a encomenda. Estou a enlouquecer. Não me queixo das muitas horas que dorme nem de todos os pratos que esvazia em segundos, com toda aquela autonomia que lhe foi concedida depressa de mais, mas se mudarmos para todos os outros assuntos que fazem o dia-a-dia de uma criança a coisa muda de figura. Estão a ver aquelas cenas de hollywood em que alguém atira uma mesa de pequeno almoço ao chão com a fúria de um braço? É a melhor descrição que vos vou conseguir fazer:) É contrariada: atira-se para o chão e esperneia, de bruços, num tom tão alto que por mais que procure o botão de volume, com todas as ferramentas não materiais que me foram dadas, não encontro. Ouve um não e bate-se. Tiro-lhe qualquer coisa da mão, morde-me. O irmão quer brincar, torce-lhe uma orelha. Tento ajudar a voltar a pôr o jantar no meio do prato antes que resvale para o mesmo lado: rosna, cerra os dentes e vira todo o […]

Há muito tempo

A Teresa foi da minha turma durante 4 anos. Era das melhores. Copiei por ela tantas vezes os testes, em surdina lhe perguntei a resposta à pergunta 3 (e à 5, à 9, à 12, à 27,…:)) ou o resultado da equação x que ela já fazia paredes com as mãos e escrevia muito perto do papel para os copiões do costume não lhe surripiarem o estudo. Era óptima a jogar futebol. Loirinha, de sorriso fácil e corpo muito magro mas nem por isso deixava de ser uma das miúdas mais fortes. A certa altura fui para o liceu continuar a cabulice, ela ficou no colégio. Fui acompanhando-a de longe e fez-se médica. Vi as primeiras fotos com o namorado, os passeios pelo mundo a paixão pelos carros sempre com o orgulho de a ver continuar grande. Tenho a sorte de a minha vida dar voltas completas e voltar aos lugares – e às pessoas – que gosto. Voltou mesmo. Felizmente já não preciso de lhe copiar os testes. Sei que ela não ficou chateada de tanto a massacrar em anos de perguntas seguidas ou não me teria escolhido para fazer parte deste dia:)
Ago 11

Feliz!

Ando tão feliz que até me falha o vocabulário:) Mais um ou dois dias de sol na cabeça e mergulhos no mar e mostro mais deste nada fazer.  

Milímetro a milímetro

Ando à procura da melhor palavra para isto mas não tenho encontrado. Não que este sentimento, dúbio, que me domina, nas mais variadas áreas da minha vida, me leve a lado algum. Mas assim estou. Sei que não demorará muito tempo até que toquem os narizes ou se olhem nos olhos sem que nenhum deles tenha que dobrar o corpo. São mais de 4 anos de diferença no calendário que não se vêem no metro. Culpa de um, de outro ou da sorte:) Não são raras as vezes em que chega a casa e em flecha vai confirmar se a irmã não o ultrapassou nas 8 horas em que não se viram. Calçam o mesmo, ela já veste mais. Já tantas vezes lhe disse que a altura não importa, que o tamanho de dentro é que conta e faz de nós maiores. Mas só tem 5 anos. Vai ter que palmilhar muito mundo até que a frase lhe faça sentido. Espero que um dia faça mesmo. Até lá estou eu a folhear todos os dicionários a ver se encontro mais latim para explicar ao russo em português que as injecções que leva todos os dias já não são chinês e […]
Jun 01

Alinhar chakras

Entreguei o Bartolomeu, hoje de manhã, à educadora e virei costas. No reboliço do dia “mais especial do ano” despachou-me com um beijo rápido e foi à vida dele. Estava já à porta da escola e oiço: – Mãaaaaaeeeeee, vim sem cuecas!! Parei, fechei os olhos numa concentração cega de reconhecimento de voz na esperança do semi-nu não ser meu e rezei qualquer coisa rápida que pagasse a vergonha da cena. Volto-me, muito devagarinho, com um só olho aberto e vejo um miúdo moreno e despenteado de olhos esbugalhados e sorriso a meia haste. Dois metros à frente uma sombra de mãe que só desejaria ter tido uma reunião às 8 da manhã que a impedisse de ir deixar os filhos à escola. Caraças! Um beijo enorme a todas as mães que tentam alinhar os chakras com o desalinho dos filhos. Bom dia da criança!:)
Mai 31

Consolo na mudança

O meu instagram ontem parecia o Oculista das Avenidas. Tanto me queixei das saudades que o azul ia deixar como precisei de algum consolo na mudança:) Não sei ainda quando os vai largar, até lá vamo-nos conformando com o que a hormona lhe dá e lhe tira:) Há dois anos que lhe decoram a cara e nos primeiros dias até pedia para dormir sem os tirar. Não se imagina sem eles, é conhecido por usá-los e os fins de dia são sempre meio turvos:) Já serviram de arma de arremesso quando me contou que os amigos não gostavam de correr com ele porque é o mais lento. Num rasgo de discernimento expliquei-lhe a importância da coisa e que, apesar de tudo, era o que via melhor por ter aqueles óculos-com-super-poderes. Ajeitou as hastes num tique nervoso e brilharam-lhe os olhos e os dentes. Sei que não vou ter sempre esta capacidade de fazer das fraquezas algo maior mas enquanto os nossos problemas forem um recreio em slow motion e um pantone de hastes, está tudo bem:)

Atestado

Adorava não ter os dois em casa doentes e adorava que o S. Pedro não atirasse baldes de água fria a quem já andou de pele ao léu. Estou em casa fechada há 4 dias com diagnósticos dúbios e humores vincados. Apetecia-me passar um atestado de esquizofrenia ao lá de cima e um de limite de doenças para um curto espaço de tempo aos cá de baixo. Vá lá, deixem-me continuar a bombar! Tenho muita gente boa a quem atestar umas gargalhadas ♥ Shooting para A Pipoca Mais Doce
Mai 05

Lindo!

O trabalho no escritório não tem dado muito tempo para me mexer por isso aproveitei que não chovia, pegámos na Assunção e fomos buscar o Bartolomeu à escola, a pé. – Mãe, o dia foi óptimo. – Mãe, hoje aprendi os animais do mar. – Mãe, hoje brinquei com o Manel. – Mãe, estou cheio de calor.  – Mãe, está frio. – Mãe, onde vamos? – Mãe, falta muito? Sentámo-nos a lanchar. – Mãe, quero um queque. – Mãe, posso beber o sumo todo? – Mãe, vou dar uma festinha aquele cão. – Mãe, o cão chama-se Cocas. – Mãe, posso mesmo beber o sumo todo? – Mãe, tenho mais sede. – Mãe, ainda tenho fome. – Mãe, onde vamos a seguir? – Mãe, quando vamos embora? Levantámo-nos para vir para casa. – Mãe, adoro passear. – Mãe, pode vir aqui? – Mãe, espere por mim. – Mãe, mais devagar. – Mãe, está ali outro cão. – Mãe, pode dar-me a mão? – Mãe, olhe isto. – Mãe, adoro passear com a mana. Fomos a uma loja. – Mãe, porque é que parámos? – Mãe, quando vamos para casa? – Mãe…? – Simmmmmmmm!? – Respondo-lhe entre dentes e de cabelos […]
Mar 17

Apaixonado

Eram 9 da manhã. No meio de todo o – normal – caos matinal instalado, cada um com a sua tarefa, há sempre uma alminha que vive alheia à escassez de tempo para tanta lista de obrigações, aos dramas das não conjugações de cor do modelito do dia, dos berros da irmã que suplica por brincadeira ou por um nó de gravata tão apertado quanto a falta de tempo. Vejo-o no ritmo, habitual, mas nem por isso não enervante, a vir na minha direcção, tal e qual o imagino a passear num jardim daqui a 70 anos. Passo a passo lá vem ele, já de bibe vestido – para ir encurtando afazeres – e quando me chega aos joelhos diz, enquanto tenta abrir o bolso com aqueles dedos pequenos: – Mãe, – ai não consigo abrir – tenho aqui uma coisa – ah, já está – que ontem me esqueci de mostrar. Brilham-lhe os olhos. E os dentes. – E o que é? (Despacha-te miúdo, ainda não me penteei!) – Um desenho da Kika. Desdobra-o ao mesmo ritmo dos passos que o levaram até mim – que nervos! – Posso ver? – Sim! – O que é? – Eu e ela. […]
Fev 04

Carnaval

Ontem, a meio do dia de filho único forçado, começou a relatar o dia anterior. O que aconteceu, como caiu, o que lhe fizeram no hospital e como se estava a sentir. Fala a mil e gesticula pormenorizadamente. Como sei que a memória prodigiosa o vai fazer lembrar disto (e muito mais) daqui a uns largos anos nem preciso de alargar muito o tema para verificar que o relatos batem sempre certo com os factos. Ao segundo. Apesar de ele já ter ido ao bloco uma mão cheia de vezes, é verdade que nunca lá estive a assistir por isso desconhecia o facto de ser preciso enrolar o corpo com um lençol para que os males fossem minimizados e ele não tentasse defender-se com os braços e fazer ainda pior. Pois que, a meio da dissertação da aventura “espectacularmente fantástica que só os super heróis conseguem” ainda diz, aos saltinhos: – Mãe, ontem adorei mascarar-me de múmia!!:) da saga ‪#‎senãoexistissestinhasdeserinventado‬
Fev 04

Cabeçadas

Bem, não posso dizer que este inverno não está a ser animado. A Assunção a cada par de dentes toma um antibiótico e intercala o feito com tosses e ranhos. Impecável. Coerência é com ela e fica em casa semana sim, semana não. O miúdo até que andava a safar-se de bichos mas não se livrou de escorregar num tapete e os óculos fizeram o resto. Bartolomeu 0 – 1 Óculos. Nunca parti a cabeça. Para dizer a verdade nunca parti nada (só a maquina fotográfica, safaram-se os dentes:)), por isso não fazia ideia do que fazer. A prática em cardiologia não me deu o brevet em cabeçadas, nunca vi tanto sangue em modo torneira e há muito tempo que ele não gritava assim. Paniquei. Parecia um filme. Eu sentada no chão, ele ao meu colo, eu a ensopar compressas e o Lourenço a limpar. Era o mais importante, limpar. O chão, a parede, as minhas mãos e a cara do miúdo. “Não vais assim para o hospital!” Se fosse para um baile era esquisito, para um hospital acho… “o menor dos meus problemas! Pára com isso, homem!!” Acho que ainda me disse duas vezes que se calhar não se […]
Jan 24

5

Nunca sei definir muito bem este dia. Parabéns meu amor maior! 5 anos com o coração a bater mais. Literalmente.

Balanços

Estou em balanço. Dei-me, agora, conta que estou assim há três semanas. Se por “balanço” entendo equacionar tudo à minha volta, pesando, repesando, lendo nas entrelinhas, sim, estou em balanço. Talvez até o esteja todos os dias da minha vida que não a concebo sem medir os estragos ou os brilhos de tudo o que faço. Para este novo ano não fiz pedidos especiais nem uma lista de promessas que sei que não vou cumprir. Quero tudo como está. Mesmo. O único item que escrevi num papelinho e dobrei em quatro dizia: publicar mais. Juro, com todos os meus vinte dedos cruzados, que vou tentar publicar, pelo menos, uma fotografia por dia fazendo com que essa “Photo of the Day” seja o meu “Bom dia!” a todos os que estão desse lado. Enquanto o dia de amanhã não chega sigam-nos no Instagram. Balanço, balanço mas estou sempre em qualquer lado. 🙂 Bom dia! ♥

Gravata

8.30 da manhã. O caos instalado em casa. O Lourenço em retoques, a miúda morta de fome, eu com uma perna dentro das calças e a outra aos pulinhos, de cabelo a pingar. Vou ao corredor ver do loiro e vejo-o a passear, calmamente, corredor acima, corredor a baixo de nariz empinado e mãos atrás das costas. Para a frente e para trás enquanto snifava ar. Argh, os nervos que me deu. O caos continuava instalado e o miúdo, o mais lento dos miúdos, em passeatas matinais, que paciência! – O que foi, querido!? Snifava, snifava. – Bartolomeu, o que foi? – Hummm. Cheira-me a gravata. (Ai, a sério! É tão cedo que nem percebo o que ele diz!) – Cheira a quê!? – A gravata, mãe. (P’lo amor de Deus, são 8.30h da manhã, só me cheira a cerelac.) – O que é isso, cheirar a gravata? Mantinha o nariz no ar e as mãos atrás das costas. E snifava. Nisto o Lourenço aparece, o miúdo dá a derradeira inalação ao ar perfumado e grita um “Ahhhh! Já percebi porque me cheira a gravata!” Só espero que nunca lhe cheire a máquina fotográfica. Volta e meia posso enganar-lhe a […]

Maratona Solidária

Estou habituada a documentar os dias mais importantes das vidas de muita gente. Choro muito, rio-me mais, arrepio-me demais. Jurei, mesmo que o mundo caísse, que ia lá estar. Cansada e com as saudades a apertarem dos miúdos por não os ver há mais de 24h. Jurei e cumpri. Queria ser testemunha de tudo o que lhe estava a acontecer. Cheguei meia hora antes de cortar a meta. Passaram-me pela lente dezenas de pernas desconhecidas em lágrimas, com dores e cansados mas não havia um par que não cortasse a meta a rir. Chorei com todos eles, tinha o coração a bater mais que depois de 42 km a dar tudo de mim e faltavam-me as forças. Comecei a ver caras conhecidas e eu, com medo do desfoque da tremura das minhas mãos no desassossego do momento, limitei-me a disparar. Só queria ser, mais uma vez, o espelho que se vê mais tarde. De repente vejo uma nuvem de balões cor de rosa, ela a rir, eu a chorar e a lembrar-me das dezenas de frases que ouvi até aquele dia. Nenhuma tinha sido: “vou acabar na maior”. Acabou na maior. Fraquejou quando sentiu que o caminho acabara mas, nem […]